COMO ME SINTO QUANDO VEJO UMA CAÇAMBA

Moro em São Paulo e na minha rua, de apenas 300 metros, sempre estão estacionadas pelo menos três caçambas.

Minha curiosidade sempre me faz dar uma espiada para ver se há algo útil, que eu mesmo possa usar, ou reutilizar. Mas confesso que antes de tudo, o que sinto é angústia por saber que quase tudo o que está dentro delas poderia ser reutilizado, doado, ou em último caso, ser reciclado ao invés de simplesmente ser levado para algum aterro.

Fico pensando nos vizinhos e nas histórias das paredes derrubadas, dos pisos retirados, nas portas e armários que tantas e tantas vezes foram testemunhas de suas vidas. E chego a conclusão, um tanto inocente, que meus vizinhos foram ingratos e que poderiam dar um destino mais digno para tudo aquilo que foi útil e que os protegeu durante anos. 

Vejo nas caçambas portas e janelas quase novas que foram tiradas de qualquer jeito, sem nenhum cuidado e que poderiam estar melhorando a casa de quem precisa. Madeiras nobres, dessas que hoje em dia não se encontram mais, e que poderiam servir muito bem no telhado de casas menos abastadas. Os exemplos são muitos: tijolos, pedras, pisos, vidros, etc.

Para aplacar essa minha angústia, de vez em quando faço alguns resgates. O último foram três gavetas que reutilizei e que viraram banquinhos. Sei que é pouco o que faço, e se tivesse mais espaço no meu apartamento, faria mais. 

Sei que é difícil administrar uma obra, mas se damos tanta importância para os detalhes da torneira nova, para a pia "zero bala" de aço, granito ou cerâmica, para a janela de madeira ou alumínio, porque não nos preocuparmos, na mesma proporção, com o que está indo embora?

Por isso eu peço a você que vai reformar sua casa ou apartamento: tenha mais atenção e cuidado com o que pretende jogar nas caçambas. Muitas das coisas valiosas que estão sendo descartadas poderiam ter utilidade para outras pessoas. Até mesmo para você. É só ter um pouco mais de boa vontade e pesquisar que encontrará um destino mais digno para aquilo que não quer mais.


Ah e minha angústia agradece!